Acho importante dividir o que pensamos para chegarmos a um consenso, e assim crescermos como uma sociedade que somos, com respeito às diferenças e com a valorização das mesmas. Por isso decidi participar desse espaço, um fórum livre, sendo parte integrante desse aprimoramento humano na terra, que parte da coletividade.
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domingo, 30 de outubro de 2011
Da Dádiva (Khalil Gibran)
E ele respondeu:
“Vós pouco dais quando dais de vossas posses.
É quando dais de vós próprios que realmente dais.
Pois, o que são vossas posses senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã?
E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultraprudente que enterra ossos na areia movediça enquanto segue os peregrinos para a cidade santa?
E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?
Não é vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio, a sede insaciável?
Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas.
E há os que têm pouco e dão-no integralmente.
Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.
E há os que dão com alegria, e essa alegria é já a sua recompensa.
E há os que dão com pena, e essa pena é o seu batismo.
E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria nem pensar na virtude:
Dão como, no vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço.
Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala; e através de seus olhos Ele sorri para o mundo.
É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido;
E para os generosos, procurar quem recebe é uma alegria maior ainda que a de dar.
E existe alguma coisa que possais guardar?
Tudo o que possuís será um dia dado.
Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.
Dizeis muitas vezes: “Eu daria, mas somente a quem merece”.
As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos.
Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.
Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais.
E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego.
E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber?
E quem sois vós para que os homens devam expor o seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu amor-próprio rebaixado?
Procurai ver, primeiro, se mereceis ser doadores e instrumentos do dom.
Pois, na verdade, é a vida que dá à vida, enquanto vós, que vos julgais doadores, são meras testemunhas.
E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais encargo de gratidão a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores.
Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas de suas dádivas;
Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai.”
domingo, 16 de outubro de 2011
Sobre o "desejo-central"
Eis uma reflexão sobre o que é o "desejo-central" e como ele se torna um elemento fundamental na formação de nossa personalidade, influenciando, muitas vezes, até mesmo o nosso destino. O conceito de "desejo-central" foi descrito por André Luiz no livro Ação e Reação, psicografado por Chico Xavier, e nos ajuda a entender que, além dos desejos imediatistas, que muitas vezes são passageiros e volúveis, todos nós carregamos um desejo mais profundo, algo que se revela como o verdadeiro eixo de nossos interesses mais íntimos. André Luiz explica: "(...) todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase da vida, um “desejo-central” ou “tema básico” dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos aprisionam à experiência rotineira, emitimos com mais frequência os pensamentos que nascem do 'desejo-central' que nos caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade."
Esse "desejo-central" é um motor silencioso, que influencia nossas escolhas e ações de maneira muito mais profunda do que imaginamos. Ele é o reflexo de nossa essência, aquilo que realmente buscamos e valorizamos, e por isso, é um dos principais responsáveis por moldar o caminho que seguimos na vida. Quando observamos as pessoas à nossa volta, é possível perceber como suas atitudes e comportamentos estão intimamente ligados a esse desejo fundamental. Desse modo, a natureza de cada pessoa pode ser conhecida pelas escolhas que ela faz. Por exemplo, a crueldade reflete o coração de quem carrega a violência como tema central; a cobiça reflete o desejo insaciável de acumular sem fins; a maledicência reflete a alma daquele que se alimenta da dor alheia; o escárnio reflete o espírito de quem se deleita em inferiorizar o outro; e, por outro lado, a elevação moral reflete a pureza daqueles que buscam a luz.
Além disso, existe uma influência ainda mais poderosa e sutil que atua sobre nós: a força mental daqueles com quem nos associamos. Assim como o nosso "desejo-central" guia nossas ações, as pessoas com quem convivemos também têm seus próprios desejos centrais, e muitas vezes essas forças podem influenciar de maneira decisiva nossas escolhas e trajetórias. Como nos ensina o instrutor Flácus no livro Libertação (também psicografado por Chico Xavier, pelo espírito André Luiz): "Espíritos incompletos que somos ainda, aderimos aos movimentos que lhes dizem respeito e colhemos os benefícios da ascensão e da vitória ou os prejuízos da descida e da derrota, controlados pelas inteligências mais vigorosas que a nossa e que seguem conosco, lado a lado, na zona progressiva ou deprimente, em que nos colocamos."
Essas influências podem ser tanto positivas quanto negativas, dependendo da natureza do "desejo-central" de quem nos cerca. Quando nos unimos a espíritos que buscam a evolução, nossa jornada se torna mais iluminada e rica de aprendizado. Porém, quando nos deixamos influenciar por aqueles cujos desejos estão voltados para as sombras, corremos o risco de descer em um caminho de sofrimento e estagnação.
Portanto, somos convidados a refletir sobre a importância de nossa própria energia mental e da energia mental de quem nos rodeia. A sabedoria popular resume essa lição em uma frase simples, mas poderosa: "Diga com quem andas e direis quem és." A companhia que escolhemos reflete profundamente quem somos, e também a direção que tomaremos. Nossa jornada, e o tipo de pessoa que nos tornaremos, está intrinsicamente ligada a esses desejos centrais, tanto os nossos quanto os daqueles que se aproximam de nós.
Por isso, ao entendermos essa dinâmica, somos chamados a examinar nossos próprios desejos, a identificar os elementos que realmente movem nossas vidas e a escolher com mais sabedoria as influências que permitimos entrar em nosso campo vibracional. Ao fazer isso, podemos não apenas melhorar nossa própria trajetória, mas também contribuir para um mundo mais harmônico e evoluído, alinhado com os mais elevados propósitos divinos.