Em uma passagem do Evangelho, encontramos a história em que os discípulos tentam expulsar um espírito obsessor, mas não conseguem. Desesperados, recorrem a Jesus para que Ele possa agir em favor daquele que estava tomado pela obsessão. O Divino Mestre, com Sua infinita compaixão e poder, cura aquele que pode ser chamado de "doente". Impressionados com a falha em sua tentativa, os seguidores perguntam: "Por que não pudemos nós expulsá-lo?"
Essa passagem revela algo profundo sobre os desafios espirituais e a dinâmica da fé. Os discípulos, apesar de sua sólida crença e da convivência constante com Jesus, estavam diante de um espírito obsessivo de maior intensidade. A obsessão que eles tentaram enfrentar exigia uma energia e um poder superiores, algo além daquilo que eles ainda estavam preparados para oferecer. Essa experiência os ensina que nem sempre estamos completamente preparados para lidar com todas as adversidades que surgem em nossa vida. Às vezes, há situações que exigem um poder, uma sabedoria ou uma força além do que possuímos no momento, e é aí que a presença do Mestre se torna essencial. Jesus, com Sua pureza e domínio sobre as leis espirituais, foi capaz de realizar aquilo que os discípulos não conseguiram.
Mas o mais impressionante é que, mesmo sem a capacidade de resolver diretamente o problema, os discípulos cumpriram seu papel. Eles não se afastaram do desafio nem desistiram da missão. Em vez disso, se tornaram um elo entre o "doente" e aquele que tinha o poder de curá-lo. Eles foram, assim, uma ponte. Embora não tivessem a solução imediata, foram instrumentos que conduziram a dor e a necessidade até o auxílio maior. Isso é algo que, muitas vezes, precisamos reconhecer em nossa própria caminhada: em diversas situações da vida, não conseguimos, sozinhos, resolver os problemas das pessoas ao nosso redor, especialmente quando se trata de questões espirituais, emocionais ou até mesmo materiais que exigem mais do que possuímos em nossos recursos.
Contudo, como os discípulos, podemos ser pontes. Podemos agir como intermediários, como facilitadores, ajudando a direcionar os outros para aqueles que podem oferecer a ajuda que eles necessitam. Muitas vezes, essa ajuda vem de pessoas ao nosso redor – amigos, familiares, colegas – que possuem mais experiência, sabedoria ou até recursos materiais e espirituais necessários para a solução dos problemas. Nesses momentos, podemos nos tornar instrumentos de conexão, unindo quem precisa de ajuda com quem pode oferecer esse apoio, assim como os discípulos fizeram ao conduzir o doente a Jesus.
No entanto, ser uma ponte não significa apenas fazer a ligação entre as partes. Ser uma ponte exige humildade e autoconhecimento. Reconhecer que, em certas situações, não temos o que é necessário para oferecer a ajuda, não é um sinal de fraqueza ou humilhação, mas de sabedoria. O verdadeiro poder está em saber até onde podemos ir e reconhecer o momento em que precisamos nos afastar para permitir que outro possa agir. Isso é um ato de grandeza. Assim como o discípulo, que não se sentiu derrotado pela sua incapacidade, mas entendeu que sua missão era conduzir o "doente" até o Mestre, nós também devemos aprender a ser humildes ao ponto de reconhecer nossos limites e, ao mesmo tempo, a grandiosidade de ser uma ponte.
No nosso dia a dia, a vida nos desafia constantemente a sermos pontes. Mesmo que pequenas, essas pontes são fundamentais. Elas nos permitem conectar as pessoas com aquilo que realmente importa: a cura, a sabedoria, a ajuda e, acima de tudo, o amor. Quando nos tornamos instrumentos de ligação, somos parte de algo maior, que vai além da nossa capacidade individual. E é nesse movimento de servir que as grandes coisas acontecem.
Portanto, ser uma ponte, mesmo que pequena, é um chamado à grandeza. Ao nos dispormos a ajudar com o que temos, mesmo que seja pouco, o universo responde, e a solução para grandes desafios podem ser alcançada. Assim, em nossas ações diárias, em nossas relações, podemos ser esses elos, esses intermediários, conectando corações, trazendo alívio e, principalmente, contribuindo para que o amor e a compaixão, como a luz de Cristo, se reflitam em nós e espalhem e iluminem os caminhos de quem nos rodeia.
Paz!
Daniel d'Assis