A capacidade de alcançar corações e mentes é uma das habilidades mais poderosas na política. Encontrar pontos comuns entre as pessoas e entender os anseios da sociedade são estratégias fundamentais para quem busca influência. No entanto, quando essas técnicas são utilizadas de forma manipuladora, o inconsciente coletivo pode ser moldado por narrativas que exploram medos e divisões, em vez de promover o diálogo e o bem comum.
Um dos exemplos mais marcantes dessa engenharia de comunicação é a estratégia utilizada pelo consultor político Arthur Finkelstein, que assessorou figuras como Viktor Orbán, Benjamin Netanyahu e Donald Trump. Sua tática consistia em "dar um rosto ao inimigo", criando um adversário comum – no caso de Orbán, o financiador George Soros – para unir eleitores em torno de um sentimento de ameaça. Essa abordagem, baseada na teoria do medo, demonstra como palavras específicas, direcionadas a grupos específicos, podem gerar pânico e, ao mesmo tempo, apresentar o próprio líder como a única solução possível. Essa manipulação não é apenas uma questão de discurso, mas de controle das massas, onde a emoção supera a razão.
No entanto, há uma grande diferença entre a teoria e a prática. Enquanto a retórica do medo pode ser eficaz a curto prazo, ela mina a confiança nas instituições e fragiliza a democracia. Atualmente, vive-se uma crise de identidade democrática, onde partidos tradicionais, como o PSDB no Brasil, entram em colapso por não conseguirem renovar suas lideranças ou conectar-se com as novas gerações. O eleitor, muitas vezes desorientado quanto às funções de deputados e vereadores, acaba buscando referências em influencers e personalidades midiáticas, em vez de avaliar propostas e competências.
Surge então uma questão ética: é moralmente aceitável escolher candidatos com base em sua popularidade instantânea, em vez de sua capacidade real de governar? Embora não seja ilegal, essa prática reflete um esvaziamento da política, onde o espetáculo prevalece sobre a substância. Além disso, em momentos de queda de popularidade, alguns líderes recorrem a estratégias de guerra – reais ou simbólicas – para reacender o apoio da base, uma tática perigosa que coloca interesses pessoais acima da estabilidade social.
Outro grande desafio é a dificuldade de se construir um projeto de país consistente. A política de curto prazo, marcada por acordos imediatistas, impede reformas estruturais. Governos de coalizão, embora necessários em sistemas multipartidários, muitas vezes se limitam a resolver o urgente, sem planejar o futuro. O que falta, portanto, é um pacto nacional que transcenda interesses individuais e partidários, priorizando o desenvolvimento sustentável e a coesão social.
Em síntese, a política contemporânea oscila entre a manipulação das emoções e a falta de um rumo claro. Enquanto líderes exploram o medo para se manter no poder, a democracia sofre com a desinformação e a superficialidade. Para reverter esse cenário, é essencial resgatar a ética na comunicação política, fortalecer as instituições e exigir dos cidadãos uma participação mais crítica e consciente. Só assim será possível construir uma governança que una, em vez de dividir, e que pense no amanhã, em vez de apenas no agora.
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