Em um vilarejo tranquilo aos pés de uma montanha vivia um jovem chamado Samuel. Ele era conhecido por sua bondade e dedicação à família, mas, após a perda de sua amada esposa, Clara, Samuel mergulhou em um profundo luto. Dias e noites se passavam enquanto ele vagava pela casa, sentindo-se perdido e sem propósito. A dor da perda era tão intensa que ele já não via razão para continuar vivendo. Até que, em um momento de desespero, Samuel decidiu procurar o Pajé Kael, um sábio ancião que vivia no topo da montanha e era conhecido por sua capacidade de guiar corações aflitos.
Com passos lentos e o coração pesado, Samuel subiu a montanha. Quando finalmente encontrou o Pajé Kael, este estava sentado à beira de um riacho, observando a água fluir. Samuel aproximou-se e, com lágrimas nos olhos, desabafou:
— Pajé, minha esposa partiu, e com ela, levou minha alegria. Não consigo mais viver assim. A dor é insuportável. O que devo fazer?
O Pajé olhou para ele com compaixão e respondeu:
— Do que adianta tanta lamentação? Será que isso vai trazer sua esposa de volta? Eu te digo: não trará. A dor da perda é como uma tempestade que varre tudo ao seu redor. Ela pode ser avassaladora, mas não vai te matar, a menos que você permita. E se você escolher seguir o caminho da autodestruição, saiba que o sofrimento não terminará. A vida é um ciclo eterno, e fugir dela só trará mais dor.
Samuel ficou em silêncio, sentindo o peso das palavras do Pajé. Ele então perguntou:
— Mas como posso suportar essa dor que parece consumir minha alma? Como posso seguir em frente sem ela?
O Pajé sorriu gentilmente e respondeu:
— A dor do luto é como uma ferida profunda na alma. No início, ela sangra, dói e parece que nunca vai cicatrizar. Mas o tempo, meu amigo, é o maior curador. Ele vai fechar essa ferida, mas você precisa fazer a sua parte. Sobreviva. Alimente-se, mesmo que não tenha vontade. Converse com alguém, mesmo que não queira. Leia livros do seu povo que te inspirem a refletir sobre a vida e a morte. Caminhe pela manhã e sinta o calor do Sol, que nasce todos os dias para lembrar que há sempre uma nova chance.
Samuel baixou a cabeça, sentindo-se um pouco envergonhado. O Mestre continuou:
— A dor também tem sua beleza, Samuel. Ela vem de um amor verdadeiro, e hoje em dia, poucos são capazes de amar de forma tão profunda. Você é valioso por isso. Chore, sim, chore muito. Mas não chore apenas pela ausência dela. Chore pelo amor que vocês compartilharam, pelas memórias que construíram juntos. Celebre a vida que ela teve, e não apenas a dor da sua partida.
O homem olhou para o Pajé, sentindo um leve alívio em seu coração. O Pajé então finalizou:
— Valorize-se, Samuel, mas cuidado com o orgulho. Ele pode te cegar e fazer com que sua queda seja ainda maior. Torne-se uma pessoa melhor a cada dia. No momento certo, você encontrará paz. Aprenda com o que sente, mas não se perca na lamentação. A vida é uma jornada, e você ainda tem muito para viver. Sua esposa não gostaria de ver você parado no tempo, sofrendo eternamente. Ela gostaria de ver você seguindo em frente, honrando o amor que vocês tiveram.
Samuel deixou a montanha naquele dia com o coração mais leve. Ele seguiu os conselhos do Mestre: começou a caminhar ao nascer do Sol, leu livros que o inspiraram, conversou com amigos e, aos poucos, a dor foi se transformando em gratidão pelas memórias que ele e Clara haviam construído juntos. Ele percebeu que a vida era feita de ciclos, e que cada perda era uma lição para torná-lo mais forte e sábio.
Anos depois, Samuel tornou-se um homem sereno, cheio de histórias para contar e um coração aberto para viver novamente. E sempre que via alguém perdido em sua própria dor, ele compartilhava a lição que aprendera com o Pajé Kael: "Aprenda com o que sente, mas não se perca na lamentação. A vida é bela, mesmo quando dói. E o amor verdadeiro nunca morre, ele apenas se transforma em memória e gratidão."
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