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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Doce anoitecer

No silêncio de um quarto iluminado pela luz branda do entardecer, um velho homem repousava em sua cadeira de balanço. Seus olhos, profundos como poços de memórias, contemplavam a paisagem além da janela. Cada ruga em seu rosto contava uma história, e suas mãos, calejadas pelo tempo, seguravam um pequeno livro de capa gasta.

Ali, sentado em sua serenidade, ele recebia visitas daqueles que, ao longo da vida, haviam aprendido com suas palavras e atitudes. Alguns o olhavam com piedade, acreditando que a idade avançada e o corpo enfraquecido fossem sinônimos de sofrimento. Outros, porém, reconheciam nele a luz de um espírito liberto, um homem que havia vivido sem se deixar escravizar pelas paixões efêmeras do mundo material.

Desde jovem, escolhera pautar sua vida pelo amor e pela retidão. Havia enfrentado quedas, dores e desafios que, em muitos momentos, pareceram insuperáveis. Mas nunca se permitira desviar do caminho do bem. Cada obstáculo superado era um degrau rumo à liberdade interior, e essa era sua maior recompensa.

“A carga não me é pesada,” dizia ele aos que o escutavam com atenção. “Pois não permiti que o mal encontrasse morada em meu coração. Se escolhemos carregar espinhos, o caminho será de dor. Mas se cultivamos o bem, criamos asas para alcançar horizontes mais altos.”

Certa vez, um jovem visitante perguntou-lhe o que poderia fazer por ele. O velho sorriu com doçura e respondeu:

“Não me olhe com pena, meu amigo. Não desejo lágrimas, pois minha jornada foi rica e cheia de sentido. Mas se puder, faça uma prece de gratidão a Deus. Essa vibração de amor me fortalecerá e, quando chegar a sua hora de descansar, estarei ao seu lado, retribuindo com carinho essa luz que hoje compartilha comigo.”

O jovem saiu dali transformado. Compreendeu que a verdadeira liberdade não estava na ausência de limitações físicas, mas na leveza da alma. E que, no fim, aquilo que damos ao mundo é exatamente o que recebemos de volta.

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